quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Contos d'encantar

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Queremos ter sempre o que não temos. Queremos o sonho, a fantasia, o impossível. Queremos que a vida seja como nos filmes, um final feliz para os bons, o castigo para os maus. O príncipe e a princesa inevitavelmente feitos um para o outro e juntos até que a morte os separe. Se é que há morte para os que vivem felizes para sempre.

Queremos o sol e a lua e todas as estrelas brilhantes no céu. Queremos um dia só para nós. E todas as noites nos braços de quem nos ama. Queremos esse alguém. Sonhamos com ele, uma entidade sem nome nem rosto, um ser perfeito acima de toda a perfeição, um ser criado exclusivamente para nós, por uma qualquer entidade superior. E um destino certeiro e irremediável, que nos junte apesar de todas as contradições, que nos faça chocar um contra o outro e prenda os olhares e as vidas para toda a eternidade. E acreditamos nesse amor à primeira vista, um conto fantástico real para nós.

Mesmo à medida que todas as relações se desfazem à nossa volta.
Pais e mães já não ficam juntos a ver os filhos crescer. Avós e avôs, com anos de vida comum, separam-se em busca de novos caminhos na recta final da vida. Aos 15 trocamos de namorado como quem troca de t-shirt. Aos 19 fazemos o mesmo. Entretanto somos também trocados como peças de roupa. E por aí adiante. Até que nos cansamos de trocar. Lembramo-nos do sonho. Príncipe e princesa juntos num castelo d’encantar. O mundo é um lugar escuro, mas nem toda a escuridão do mundo consegue engolir o sonho, o poderoso imaginário colectivo. E as princesas sonham com príncipes. E alguns príncipes sonham com outros príncipes. E algumas princesas sonham com outras princesas. Outros sonham com príncipes e princesas. E sonhamos todos.
E o mundo continua um lugar escuro. E malditos sejam os senhores do mundo norte-americanos e os seus filmes mais ou menos viciantes e as suas séries verdadeiramente boas e viciantes.
Malditas séries que fazem parecer tudo tão difícil, mas ainda assim, tão possível. Até os sonhos.

domingo, 28 de setembro de 2008

Monument of A Heart

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I. Where will you go?

"I can hear you in a whisper
but you can't even hear me screaming"

O fogo negro de outros dias foi novamente despoletado e consome...
tal como dantes.

Voltou e eu voltei, inevitavelmente, qual filha pródiga, àquelas melodias já quase esquecidas e repassadas, desgastadas de tanto ouvidas, apenas para as encontrar ali, como sempre foram, cheias de um sentido imenso que não consigo expressar de outra forma. E o regresso é doloroso.

É doloroso, porque é admitir que não mudei. Que sou a mesma. E que aquela dor ainda aqui está, tão fresca como há tantos anos atrás. Porque as músicas ainda fazem um tremendo sentido. Porque ainda estou sozinha. Como todos os dias.

II. Solitude

Melodia lenta e arrastada como um choro longo, o meu choro de todos estes anos. E ainda sou a mesma, oh meu deus, ainda sou a mesma!...

"I can't stay here another night..."

E fico sempre... sempre... não consigo fazer sentido. Música invisível para um ser tão invisível como a cor do ar... sim, ainda sou dessa cor... talvez nunca venha a ser doutra, mas que sentido é que isto faz?

Solitude forever me and forever you. E esta é a única verdade. Oh Solitude only you, only truth.

III. Imaginary

"Swallowed up in the sound of my screaming
cannot cease for the fear of silent nights"

Aquele céu ainda é meu.
É ainda nesse imaginário que afogo as lágrimas sós e silenciosas, deixando-as cair no vazio da ausência que sinto sempre, como se antes tivesse havido algo para a substituir, algo no lugar desse vazio, mas a verdade é que não houve. Nunca houve. Nunca ninguém ocupou esse lugar virgem e estéril, nunca ninguém lá esteve, nem eu mesma sei de que cores se reveste, se é que tem alguma. Nunca ninguém o tocou.

E no entanto o vazio está lá, no lugar de algo que deveria, talvez, lá estar. Como sei eu isto? Não sei...

Por isso sonho.

Alma escondida num sonho mais belo do que alguma vez seria possível e recuso-me a deixar cair esse sonho, como tantos outros, recuso-me a recusar-me a sonhar, mas sei que todos os sonhos são tão ocos quanto a ausência de acções que os persigam. E há sempre coisas que não podemos fazer acontecer... ainda assim, sonho com flores de papel esvoaçando ao vento num campo infindável, ao som de notas de um piano qualquer...

IV. Exodus...

O meu, talvez... tenho estado num êxodo constante... fugindo ao que não quero admitir, fugindo de mim mesma...

"Here in the shadows I'm safe, I'm free"

E é só onde sei estar.
Um dia pensei que era feita de luz, mas agora sei que isso não deve ser verdade. Se assim fosse a escuridão não poderia engolir-me. Agora sei que há muita coisa que finjo, na ânsia de que se torne verdade. Se pensar que sou feita de luz, talvez de alguma forma, ilumine os outros. Mas as coisas não podem ser assim...

"Show me the shadow where true meaning lies..."

E o desejo de que me salves volta novamente, com toda a força avassaladora do maior dos sonhos... mas não me podes salvar. Ninguém pode. Eu sei que tenho de ser eu, mas e se eu não consigo? Às vezes não consigo salvar-me para mais um dia, salvar-me para mais uma desilusão, salvar-me para mais uma descoberta que me entristece... salvar-me até tu chegares e me salvares de novo... Mas ninguém devia ter que ser salvo.

V. So Close

"I walk by statues..."

Volto. Volto às melodias negras de antigamente, com o mesmo fôlego que dantes, com uma mágoa intacta e imperecível.

E as palavras estão lá, para falar de um inominável interior, o fogo negro a consumir, a água negra a aspergir, o vento negro a nublar, a terra negra para me afundar...

E nessa escuridão toda há uma centelha, uma centelha apenas, que se recusa a desaparecer, que se recusa a morrer porque há um fim sentido para tudo isto, há um caminho, há um futuro algures... há o desejo ínfimo de não desaparecer com o fim da vida, de deixar algo para trás...

"If I could leave a mark on the monument of the heart..."

E claro que isso foi sempre o que quis. Tocar-te. Ser para ti, aquilo que mais ninguém foi para ti. Deixar-te entrar neste meu mundo de sombras e luz. Deixar-te ver-me como mais ninguém me viu. Mesmo que toda a escuridão do mundo tivesse que me engolir.

VI. Understanding

Algo que nunca alcancei. Que nunca consegui.
Uma compreensão de extremos inalcansáveis e inextrincáveis.
Ainda assim, há aqui um lugar para me perder e me encontrar.

Aconchego a dor neste espaço, deixo o coração refugiar-se nestas notas que alguém escreveu um dia, de alma a sangrar e mãos a sangrar, e sigo nessas palavras mortas que fazem parte de mim, porque eu não sei fazer mais nada. A compreensão está tão longe como ontem, como naqueles dias, nem a mim me entendo.

VII. Demise

Enquanto os meus sonhos impossíveis congelam e são forçados ao esquecimento eterno, deixo tudo o resto para trás. A minha alma que queria ser melhor, sabe por vezes, que não pode mesmo ser mais do que isto.

VIII. Origin

Foi-se tudo.

IX. Whisper

"Speaking to the atmosphere
No one is here
and I fall into myself"

Nem todos os anjos do mundo me poderiam resgatar daqui, deste monumento edificado em minha honra, como um memorial.

E todas as coisas que sonho incessantemente acordada, serão para uma vida que não é minha, serão para uma estória que eu talvez um dia escreva, mas nunca serão minhas, porque esses impossíveis não são meus, não estão ao alcance de um ser sem rosto e sem expressão.

"Never sleep
Never die"

A esperança louca assalta-me ainda, não consigo evitar descomprimir o rosto franzido com um desgosto que não sei de onde vem, nem para onde vai. E nunca pude deixar de ter esperança, mesmo quando sinto que estou à beira da vertigem, que vou cair, que me roubaram a alma e a fecharam onde não a posso ir buscar e, de asas quebradas, arrancadas ou extirpadas, vou ainda em busca daquilo que me falta e sou incapaz de parar, de parar esta busca desesperada.

X. Field of Innocence

"Where has my heart gone?"

Às vezes pergunto-me aonde deixei partes dele, aonde ficaram partes essencias dele, aonde deixei tantas coisas...

O que poderia ser e o que é estão muitas vezes ligados nalgum ponto que não conseguimos definir muito bem. O medo está lá claro, nunca poderá deixar de estar, mesmo que um dia a luz nos tenha parecido infinitamente bela, sabemos que nos cegará se for demasiado pura, se for demasiado boa, se for demasiado perfeita, sabemos que se extinguirá e o que fica é pouco, porque continuamos a ver essa luz, de forma indistinta e nublada e ela nunca nos deixa.

XI. Even in death

Jamais desperdiçarei a minha vida devido a essa esperança. Sendo fatalista é díficil de compreender de onde vem isto que me impele para a frente e se recusa a deixar-me, mesmo que eu diga que desisti e que já não vou lutar mais. Sempre que disse isto, o impossível aconteceu. Sempre que me preparava para desistir, o impossível tomava forma. Havia mãos e braços a puxar-me de volta, para longe do fogo negro, da água negra, do ar poluído, da terra escura... de volta. E por isso nunca desisti, mas este caminho não o percorri sozinha.

"And I can't love you any more than I do"

E é tão difícil saber qual a maneira certa de amar. Mas se sentimos que tudo o que é nosso está ali, talvez essa seja essa a maneira certa. Ou talvez não. Temos pouco tempo para descobrir isso, porque na próxima vida é provável que já não nos lembremos desta e voltemos a fazer tudo igual, sem compreender porque o fazemos e sem o poder evitar.

XII. Anywhere

Ainda assim busco a terra sagrada que sei que existe e que sei que estará num onde e quando que não têem nada a ver com localização geográfica, mas com encontro.

Será...
"where love is more than just your name"

Mas será que eu acredito nisto? Seria fácil responder que não e aceitar a inevitabilidade de um mundo frio e vazio, o único mundo com que sabemos lidar, o único onde sabemos viver.

E se algum dia houver essa plenitude de que tantos falam, se algum dia, "Anywhere" for aqui...
Talvez aí me aceites.

"Forget this life
Come with me
Don't look back you're safe now
Unlock your heart
Drop your guard
No one's left to stop you now"

XIII. Lies

"You'll never be strong enough
You'll never be good enough"

Afasto do pensamento as injustiças de todos os dias. Diferença - essa palavra proibida e desejada, não é senão um taboo terrível e impossível de catalizar. Há dias em que luto com todas as minhas forças contra isto tudo, luto como guerreira em fúria e poucas vezes ganho a batalha contra o resto do mundo. Calo-me e escondo-me, remeto-me ao silêncio e reduzo-me à minha insignificância porque o mundo continuará a seguir o seu rumo faça eu o que fizer e eu sou impotente perante isso.

Outros dias a luta não é tão inglória e a impotência é tão possível como a intervenção. São dias de sol, dias de chuva, dias sem nada de importante, para além de uma nova visão do mundo, visto deste lugar onde estou.

XIV. Away from me

E embora eu não saiba bem quem sou, se ar, se fogo, se água, se terra, embora tudo isto, eu gostava que visses o que eu vejo também...

"I'm longing to be lost in you..."

Mas isso não seria mais importante do que me mostrares o teu mundo. Porque eu já estou cansada do meu. Mundo reduzido a palavras, a efeitos de estilo, a conjuções e verbos e outras coisas mais, como frases sem sentido.

XV. Eternal

E o que eu quero é ouvir as melodias que fazem parte de ti, como estas fazem parte da mais profunda definição de tudo aquilo que fui ou sonhei ser e ainda sou. E o que eu quero, na verdade, é ouvir-te e deixar de falar e de escrever. Também posso ler-te. O que quero, na verdade, é saber-te, entender o que é importante para ti, perceber que o teu mundo pode ser este cá em baixo e não ter nada a ver com o meu.

E principalmente, procurar o ponto onde estes mundos se encontram. Esse nosso "anywhere" sem fronteiras definidas. Se me pegares na mão não quero sentir que estou a ser arrastada, só quero que me queiras levar contigo, se for possível, ao teu imaginário, às tuas cores, às tuas melodias, às tuas palavras.

E se não tiveres nada disso, leva-me só a ti.
E talvez nesse dia de sol ou de chuva, ou nessa noite, eu possa esquecer que a minha alma volta sempre aqui, às velhas melodias, para dormir, chorar e se curar.

domingo, 7 de setembro de 2008

Este Desabafo...

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Estes desejos e medos que tenho, tão vagos, tão vãos, tão feios, são iguais aos de todas as almas penadas que viajam o mundo. E eu não sou mais nada do que ninguém. E eu não sou mais eu, do que outro alguém. E estes desejos e estes medos, tão vagos, tão vãos, tão feios, porque egoístas, são os mesmos de toda a gente. E assim, eu sou ainda menos, porque sou todos. Sobra algo de mim? Sobra algo de mim que possa ser único para ti… e cativar-te?



Parte e vai amar todos eles. Porque eu sou só mais um deles.

A Song From This Heart

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Night calls me to devour my soul
I have nothing, so I let go
I give up trying to keep my soul alive
Waiting for you to come

These melodies can’t ease
The closeness inside me
Nor the notes played by this invisible piano
They once eased my pain
Now they make it grow dark

My soul was full of light
Light to give to all of them
And the dreams I always cherished
Like memories too dear to rip off
Now they seem so… so gone…

As times pass by
I lose faith in that promise I imagined
to keep me alive
Until this very night.

All alone I go
Craving another soul to join me
Is not fair, is not fair
So my soul departs me
And you never came
To set it free.

Pedido de Alguém Invisível

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Que obscuras sombras contam a tua história?
Que dores secretas marcam o teu rosto?
Que caminhos foram esses que percorreste…
Até chegares até mim?

E quem és tu?

Lanço as mãos no escuro e espero alcançar-te
Tocar-te
De alguma forma.
Chegar a ti.
Percorrer com os meus dedos as linhas da tua mão
Vida e morte
E conhecê-las não de cor, mas como num dejà vu.
Entendê-las sem nunca as ter visto.

Não vês que estou aqui?
Que sou alma facilmente encantada com o brilho de um olhar?
Que no teu vi mundos que desejei ter?
Vi uma alma nua como a minha
Vi o meu mundo contado por ti.
Ou imaginei que vi
Talvez por querer tanto ver…
Isso pode acontecer.

Por isso te sigo
Procuro as palavras certas para te alcançar…
E busco-te a todas as horas
A todo o momento…
Com esperança que sejas tu.
Oh, como seria bom que fosses tu!

7 de Setembro do ano de 2008, uma hora e 26 da manhã.

sexta-feira, 25 de abril de 2008

Noite

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A noite é negra
A minha alma às vezes é negra como a noite escura.

Guia-me em mais uma noite, Deusa, Mãe.

quinta-feira, 24 de abril de 2008

Sonhei?

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Hoje jaz calmo o meu coração
Longe dos ferimentos de outros dias
A tempestade cessou.

Viajo pelos sussurros da floresta
Em busca de um lugar para mim
Onde possa descansar os meus pés fatigados
Onde possa repousar as minhas asas voláteis
Deixar de lutar.

Oiço a tua voz voando com as folhas, levada pelo vento
E chegas até mim,
Onde o meu corpo jaz calado e frio

A tua voz envolve-me,
Seguem-se as tuas mãos
E num segundo estás ali
Onde antes não havia nada
Onde antes estava eu,
Sozinha,
Desesperada.

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Eras tu...em mim

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Passo esta noite
Como a outra que passou
Passo só
Corpo só e abandonado
A dor da tua ausência mora em mim.
Sinto os lugares que nunca tocaste
Sinto aqui o calor do toque que nunca senti
Sinto a dor dos teus olhos em mim
Querendo e desejando
Enredas-me nos teus dedos
Prendes-te nos meus cabelos
Envolves-me com o teu corpo
Cobres-me
Proteges-me
As tuas mãos tocam-me ao de leve
E depois perdem-se em mim
Levam-nos para longe
Voam sobre o meu corpo
A tua respiração entra por mim adentro
Expiro a tua vida
Inspiro o teu nome
O teu corpo
E tu
Em mim.
O teu coração palpita nas minhas mãos
As tuas mãos trepam pelo meu corpo
A tua voz suspira em mim
E sei que amaste o que viste pela primeira vez
Que sonhaste comigo esta noite
O teu corpo no meu
As tuas mãos em mim
Eu em ti
Os teus lábios devoram toda a minha dor
O teu corpo abraça as minhas mágoas
As tuas mãos apagam as minhas lágrimas
E levas-me para casa
E levas-me para longe
E fazes-me morar em ti
Eu choro.
Acordo e tu não estás


Nunca foste meu.

06.03.08 - 00.30h


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quarta-feira, 2 de abril de 2008

Faz-me

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Faz-me fugir
Oh faz-me viver!

Enlouqueço nesta torre alta e fria
Que trabalhei e ergui para me esconder.

Quem és tu beleza negra
Feita de noite
Mais escura que as Trevas
Brilhas negra e bela...
Caminhas para mim
Vendo-me como nenhum outro me viu
Expressão dos meus olhos
Onde lês o que meti cá dentro
E não tens medo de mim
E eu não tenho medo da noite
Nem da noite sem fim

Se te tiver a ti.

Se não estiver sozinha,
Como nesta noite.

terça-feira, 1 de abril de 2008

Quebrar-me

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Quero quebrar-me contra ti
Para que me apanhes com as tuas mãos,
Coles as pequenas partes da minha pequena alma
Frágil
Ligues os pedaços despedaçados aos teus pés.

Quero quebrar-me contra ti
Sentir-me estilhaçar
Só para te ver correr para me alcançar
Apanhar cada bocadinho minúsculo de mim.

Arranja-me.
Põe-me bem outra vez.

Quero quebrar-me contra ti.

~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~

*Blesses of Love

Quietação

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Projecção de mim
Num lago azul
feito de lágrimas de ninfas...

Corpos diáfanos
Feitos de sonhos perdidos.

Nado por entre as águas etéreas
Enleada na submersão de toda a dor...
Perdendo os sentidos do meu corpo
E exalando a minha identidade.

Saindo deste torpor
Calmo
Vejo-me e sou
Estática.

Mágoas separadas de mim
Por ondas de um mar bravo

E mergulho finalmente
No vento da tua tempestade.

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*Blesses of Love

...das Trevas...

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As Trevas da solidão rompeste
Quando chegaste naquela madrugada
Para me salvar de mim.
Fui como o tempo que já passou,
Quando chegaste até mim
E me disseste que o pior já passou.

Não tive medo
Quando vi mais uma madrugada fugir
E o sol subir num novo dia limpo.
Ao entrar neste jardim contigo
As árvores enredam-nos no nosso sonho...
E não somos mais apenas nós
Mas parte das árvores e folhas
Parte do sonho que sonhámos
E as nossas vozes tecem
Novos sonhos que fazemos crescer
Por entre a névoa.

E penso que a vida vale a pena
Porque tivemos esse sonho
De um momento de silêncio...

Em que as Trevas da solidão rompeste
Quando ficaste naquela manhã
Apenas para me salvar de mim.
E fui como o tempo que é
Quando foste até mim
E me disseste que o dia começou.

~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~

*Blesses of Love

quarta-feira, 26 de março de 2008

Ser Ar...

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A noite cai.
Os céus mergulham na escuridão.
Mais uma noite negra,
O sol recolhe-se,
Cobre-se com o manto negro do seu luto feito de estrelas.
Todos temem a noite.
Todos temem estar longe da luz.
Todos temem perder-se

….

Ouve-se.

Sente-se.



Respira-se.

Abrem-se olhos.

Para o vazio.

Mas a noite é cheia.

Ela sabe.

Na noite encontra-se o que se perdeu.

Encontra-se
o silêncio de uma ausência, a companhia da lua e das estrelas,
longe e perto,
fazem a diferença num céu escuro.

Ela tem medo.
Tem medo, claro.
Medo como todos têm.
Medo de ficar só.
Medo de não ter tempo.
Medo de não ser.



Oh, mas a noite permite sonhar.
Permite ser
o que não se pode ser
quando os olhos todos nos observam à luz do dia.

O dia clareia as ilusões. Revela que o que víamos belo é somente real.
Real como um toque.
Real como a dor.

O dia mostra que não podemos sonhar sempre.
A realidade quer submeter-nos. A realidade quer tornar-nos reais.

Mas quem disse que temos de o ser?
Tão reais como um corpo?
Tão reais como a chuva?
Não somos muito mais que isso?
Não há em nós mais do que aquilo que a luz mostra?

O nosso corpo, os nossos olhos, o nosso sorriso são luz.
A nossa alma é escuridão profunda, algo muito para lá do visível.

Mãos lutam para a agarrar, para ter um pedaço, para saber o que vai nela. Há quem lute para a esconder. Há quem lute para a eliminar.

Há quem finja não a ter.

Há quem acredite que ela espreita pelos olhos.

Há quem a queira mostrar, assim, tal como ela é. Mas ninguém a conhece. Mistério como a noite, como o negro em qualquer cor.
Porquê ter medo?
Porquê temer o olhar que nos lançam?
Porquê temer a diferença?

Não somos todos diferentes nesse lugar efémero e eterno que queremos esconder e mostrar ao mesmo tempo, com tanta ansiedade?

Que mal faz sonhar?
Querer.
É tudo o que sabemos fazer, é tudo o que nos torna humanos.
Essa escuridão da alma é o querer em todos.

Guardamos em nós, o bom, o mau. Não importa. Nada disso importa.
No fundo, só queremos ser tocados e queridos de volta.

Queremos sentir num momento o significado de sentir e de viver e saber porque viver vale algo – tem de valer, é tão pouco tempo!

Um dia voltaremos, sei lá!

Talvez a minha mão já tenha segurado a tua antes. Talvez os nossos corações tenham caminhado lado a lado. Talvez os meus olhos e os teus se tenham encontrado. Talvez, com eles, as nossas escuridões se tenham tocado em busca da luz.

Nesta vida damos as mãos.
Mais uma vez.
Outra vez.
A primeira.
A última.
A única.

Seguro-te, tu seguras-me.
Choro, tu choras e tentas sorrir.
Choras, eu choro e tento entender.

Amarramos as asas dos sonhos que sonhámos e ao mesmo tempo soltamo-las, libertamo-las da prisão dos dias e abrimo-las no ar, voamos na noite. E somos.

...

eu…

Escrevo. As palavras sucedem-se. Atropelam-se. A conexão entre as minhas mãos e a minha alma é próxima, as palavras vêm em meu auxílio.
Como fino véu,
entre elas e eu
não há mais nada.
Alma assim exposta, entrego-me e condeno-me, mas é tudo o que sei fazer.
Tenho medo.
Quero voar.
Escrevo – e ainda tenho medo
e consigo voar.
Quem sou eu sem elas, palavras da minha alma, não sei. Que elas estão em mim e eu sou nelas, é tudo o que sei. O meu dom é a minha maldição também.
Sou espírito que se comove com o vento.
Que acredita em fadas.
Que sonha magia.
Que acredita no amor.
Sou espírito que se move com o vento.
Que é frágil como finas asas.
Que é como floresta ardida.
Que tem medo de ser amada.

Sou como o ar. O ar invisível e indomável. O ar incontrolável. O ar que vive e deixa viver. Sou como o ar que foge e escapa. Mas que volta sempre. E acaricia. E envolve. E cobre tudo. E leva para longe as lágrimas, as palavras duras, as dores de almas desoladas. E as trás de volta.

O meu dom é a minha maldição, mas é um dom.

É o meu dom.

O meu dom de ser ar, de ser vento, de sonhar ser fada, ser princesa num castelo de nada. É o meu dom. De ser a escrever. De criar e fazer viver.

É o meu dom. De ser poder, ser sopro de vida. Ser voz, ser nome próprio. Ser vento que não deixa a árvore descansar e ao mesmo tempo é a sua mais fiel companhia.

É o meu dom. De falar, de dizer, de tentar dizer o que sinto. De não calar, revelar, descobrir e ver.

É o meu dom. De procurar ver e tentar chegar mais longe.

Como ar busco o oculto, o invisível aos olhos, as minhas mãos buscam agarrar o sentimento mais puro. A pura bondade de alguém. A pura beleza de uma voz. A pura melodia.

Buscar, a minha busca é eterna e infinda!

Tenho caminho, procuro-o, quero segui-lo.

Mas o ar está condenado a poder seguir por todos os lados.
E o seu caminho não tem destino...
 

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