domingo, 28 de setembro de 2008

Monument of A Heart


I. Where will you go?

"I can hear you in a whisper
but you can't even hear me screaming"

O fogo negro de outros dias foi novamente despoletado e consome...
tal como dantes.

Voltou e eu voltei, inevitavelmente, qual filha pródiga, àquelas melodias já quase esquecidas e repassadas, desgastadas de tanto ouvidas, apenas para as encontrar ali, como sempre foram, cheias de um sentido imenso que não consigo expressar de outra forma. E o regresso é doloroso.

É doloroso, porque é admitir que não mudei. Que sou a mesma. E que aquela dor ainda aqui está, tão fresca como há tantos anos atrás. Porque as músicas ainda fazem um tremendo sentido. Porque ainda estou sozinha. Como todos os dias.

II. Solitude

Melodia lenta e arrastada como um choro longo, o meu choro de todos estes anos. E ainda sou a mesma, oh meu deus, ainda sou a mesma!...

"I can't stay here another night..."

E fico sempre... sempre... não consigo fazer sentido. Música invisível para um ser tão invisível como a cor do ar... sim, ainda sou dessa cor... talvez nunca venha a ser doutra, mas que sentido é que isto faz?

Solitude forever me and forever you. E esta é a única verdade. Oh Solitude only you, only truth.

III. Imaginary

"Swallowed up in the sound of my screaming
cannot cease for the fear of silent nights"

Aquele céu ainda é meu.
É ainda nesse imaginário que afogo as lágrimas sós e silenciosas, deixando-as cair no vazio da ausência que sinto sempre, como se antes tivesse havido algo para a substituir, algo no lugar desse vazio, mas a verdade é que não houve. Nunca houve. Nunca ninguém ocupou esse lugar virgem e estéril, nunca ninguém lá esteve, nem eu mesma sei de que cores se reveste, se é que tem alguma. Nunca ninguém o tocou.

E no entanto o vazio está lá, no lugar de algo que deveria, talvez, lá estar. Como sei eu isto? Não sei...

Por isso sonho.

Alma escondida num sonho mais belo do que alguma vez seria possível e recuso-me a deixar cair esse sonho, como tantos outros, recuso-me a recusar-me a sonhar, mas sei que todos os sonhos são tão ocos quanto a ausência de acções que os persigam. E há sempre coisas que não podemos fazer acontecer... ainda assim, sonho com flores de papel esvoaçando ao vento num campo infindável, ao som de notas de um piano qualquer...

IV. Exodus...

O meu, talvez... tenho estado num êxodo constante... fugindo ao que não quero admitir, fugindo de mim mesma...

"Here in the shadows I'm safe, I'm free"

E é só onde sei estar.
Um dia pensei que era feita de luz, mas agora sei que isso não deve ser verdade. Se assim fosse a escuridão não poderia engolir-me. Agora sei que há muita coisa que finjo, na ânsia de que se torne verdade. Se pensar que sou feita de luz, talvez de alguma forma, ilumine os outros. Mas as coisas não podem ser assim...

"Show me the shadow where true meaning lies..."

E o desejo de que me salves volta novamente, com toda a força avassaladora do maior dos sonhos... mas não me podes salvar. Ninguém pode. Eu sei que tenho de ser eu, mas e se eu não consigo? Às vezes não consigo salvar-me para mais um dia, salvar-me para mais uma desilusão, salvar-me para mais uma descoberta que me entristece... salvar-me até tu chegares e me salvares de novo... Mas ninguém devia ter que ser salvo.

V. So Close

"I walk by statues..."

Volto. Volto às melodias negras de antigamente, com o mesmo fôlego que dantes, com uma mágoa intacta e imperecível.

E as palavras estão lá, para falar de um inominável interior, o fogo negro a consumir, a água negra a aspergir, o vento negro a nublar, a terra negra para me afundar...

E nessa escuridão toda há uma centelha, uma centelha apenas, que se recusa a desaparecer, que se recusa a morrer porque há um fim sentido para tudo isto, há um caminho, há um futuro algures... há o desejo ínfimo de não desaparecer com o fim da vida, de deixar algo para trás...

"If I could leave a mark on the monument of the heart..."

E claro que isso foi sempre o que quis. Tocar-te. Ser para ti, aquilo que mais ninguém foi para ti. Deixar-te entrar neste meu mundo de sombras e luz. Deixar-te ver-me como mais ninguém me viu. Mesmo que toda a escuridão do mundo tivesse que me engolir.

VI. Understanding

Algo que nunca alcancei. Que nunca consegui.
Uma compreensão de extremos inalcansáveis e inextrincáveis.
Ainda assim, há aqui um lugar para me perder e me encontrar.

Aconchego a dor neste espaço, deixo o coração refugiar-se nestas notas que alguém escreveu um dia, de alma a sangrar e mãos a sangrar, e sigo nessas palavras mortas que fazem parte de mim, porque eu não sei fazer mais nada. A compreensão está tão longe como ontem, como naqueles dias, nem a mim me entendo.

VII. Demise

Enquanto os meus sonhos impossíveis congelam e são forçados ao esquecimento eterno, deixo tudo o resto para trás. A minha alma que queria ser melhor, sabe por vezes, que não pode mesmo ser mais do que isto.

VIII. Origin

Foi-se tudo.

IX. Whisper

"Speaking to the atmosphere
No one is here
and I fall into myself"

Nem todos os anjos do mundo me poderiam resgatar daqui, deste monumento edificado em minha honra, como um memorial.

E todas as coisas que sonho incessantemente acordada, serão para uma vida que não é minha, serão para uma estória que eu talvez um dia escreva, mas nunca serão minhas, porque esses impossíveis não são meus, não estão ao alcance de um ser sem rosto e sem expressão.

"Never sleep
Never die"

A esperança louca assalta-me ainda, não consigo evitar descomprimir o rosto franzido com um desgosto que não sei de onde vem, nem para onde vai. E nunca pude deixar de ter esperança, mesmo quando sinto que estou à beira da vertigem, que vou cair, que me roubaram a alma e a fecharam onde não a posso ir buscar e, de asas quebradas, arrancadas ou extirpadas, vou ainda em busca daquilo que me falta e sou incapaz de parar, de parar esta busca desesperada.

X. Field of Innocence

"Where has my heart gone?"

Às vezes pergunto-me aonde deixei partes dele, aonde ficaram partes essencias dele, aonde deixei tantas coisas...

O que poderia ser e o que é estão muitas vezes ligados nalgum ponto que não conseguimos definir muito bem. O medo está lá claro, nunca poderá deixar de estar, mesmo que um dia a luz nos tenha parecido infinitamente bela, sabemos que nos cegará se for demasiado pura, se for demasiado boa, se for demasiado perfeita, sabemos que se extinguirá e o que fica é pouco, porque continuamos a ver essa luz, de forma indistinta e nublada e ela nunca nos deixa.

XI. Even in death

Jamais desperdiçarei a minha vida devido a essa esperança. Sendo fatalista é díficil de compreender de onde vem isto que me impele para a frente e se recusa a deixar-me, mesmo que eu diga que desisti e que já não vou lutar mais. Sempre que disse isto, o impossível aconteceu. Sempre que me preparava para desistir, o impossível tomava forma. Havia mãos e braços a puxar-me de volta, para longe do fogo negro, da água negra, do ar poluído, da terra escura... de volta. E por isso nunca desisti, mas este caminho não o percorri sozinha.

"And I can't love you any more than I do"

E é tão difícil saber qual a maneira certa de amar. Mas se sentimos que tudo o que é nosso está ali, talvez essa seja essa a maneira certa. Ou talvez não. Temos pouco tempo para descobrir isso, porque na próxima vida é provável que já não nos lembremos desta e voltemos a fazer tudo igual, sem compreender porque o fazemos e sem o poder evitar.

XII. Anywhere

Ainda assim busco a terra sagrada que sei que existe e que sei que estará num onde e quando que não têem nada a ver com localização geográfica, mas com encontro.

Será...
"where love is more than just your name"

Mas será que eu acredito nisto? Seria fácil responder que não e aceitar a inevitabilidade de um mundo frio e vazio, o único mundo com que sabemos lidar, o único onde sabemos viver.

E se algum dia houver essa plenitude de que tantos falam, se algum dia, "Anywhere" for aqui...
Talvez aí me aceites.

"Forget this life
Come with me
Don't look back you're safe now
Unlock your heart
Drop your guard
No one's left to stop you now"

XIII. Lies

"You'll never be strong enough
You'll never be good enough"

Afasto do pensamento as injustiças de todos os dias. Diferença - essa palavra proibida e desejada, não é senão um taboo terrível e impossível de catalizar. Há dias em que luto com todas as minhas forças contra isto tudo, luto como guerreira em fúria e poucas vezes ganho a batalha contra o resto do mundo. Calo-me e escondo-me, remeto-me ao silêncio e reduzo-me à minha insignificância porque o mundo continuará a seguir o seu rumo faça eu o que fizer e eu sou impotente perante isso.

Outros dias a luta não é tão inglória e a impotência é tão possível como a intervenção. São dias de sol, dias de chuva, dias sem nada de importante, para além de uma nova visão do mundo, visto deste lugar onde estou.

XIV. Away from me

E embora eu não saiba bem quem sou, se ar, se fogo, se água, se terra, embora tudo isto, eu gostava que visses o que eu vejo também...

"I'm longing to be lost in you..."

Mas isso não seria mais importante do que me mostrares o teu mundo. Porque eu já estou cansada do meu. Mundo reduzido a palavras, a efeitos de estilo, a conjuções e verbos e outras coisas mais, como frases sem sentido.

XV. Eternal

E o que eu quero é ouvir as melodias que fazem parte de ti, como estas fazem parte da mais profunda definição de tudo aquilo que fui ou sonhei ser e ainda sou. E o que eu quero, na verdade, é ouvir-te e deixar de falar e de escrever. Também posso ler-te. O que quero, na verdade, é saber-te, entender o que é importante para ti, perceber que o teu mundo pode ser este cá em baixo e não ter nada a ver com o meu.

E principalmente, procurar o ponto onde estes mundos se encontram. Esse nosso "anywhere" sem fronteiras definidas. Se me pegares na mão não quero sentir que estou a ser arrastada, só quero que me queiras levar contigo, se for possível, ao teu imaginário, às tuas cores, às tuas melodias, às tuas palavras.

E se não tiveres nada disso, leva-me só a ti.
E talvez nesse dia de sol ou de chuva, ou nessa noite, eu possa esquecer que a minha alma volta sempre aqui, às velhas melodias, para dormir, chorar e se curar.

1 comentários:

Anónimo disse...

Dói-me ouvir essas palavras. Dói-me porque sinto a tua dor. Dói-me porque me sinto imponente perante isso, e porque sinto que não posso fazer nada para ajudar.
Dói-me porque me sinto tão insignificante, tão inútil - um mero passageiro que se eclipsará daqui a uns anos e de quem nunca mais se ouvirá falar.
Revejo-me nas tuas palavras e percebo sentimentos que talvez de outra forma nunca conseguisse objectivar. Porque é tudo tão claro agora.

E irritam-me as coisas. Irrita-me o facto de ter que existir este choro torturante, este choro quase sempre silencioso que inunda a alma e afoga os gritos de socorro. Irrita-me chegar aqui e perceber que o mundo é um caminho doloroso, e pensar que há sofrimento, e sentir esse sofrimento, e de o sentir de pessoas como tu, pessoas que não deveriam sofrer. Ninguém deveria sofrer. E uma vez mais irrita-me não poder fazer nada, e apenas ser invisível ao ponto de dizer “estou aqui” - mas isso não chega.
Gostava de te ver ser salva, que te levassem daqui, que te mostrassem um reino longe das sombras e te erguessem dessas palavras mortas que te escrevem as lágrimas e os suspiros. Gostava que te sarassem as feridas e de te ver sorrir, como num dia ameno, quando deitados sobre a relva - sem preocupações e apenas um céu imenso sobre nós e palavras que me ficam para sempre retidas na memória.
Quem me dera que o mundo fosse assim, esses breves momentos - uma vida fragmentada, sem as partes más e sem os anseios do que nos atormenta, sem os fantasmas do passado que teimam em escrever sobre o meu corpo, uma outra, e outra vez.

Porque é que tem que ser assim? Não sei. Ás vezes penso que as pessoas gostam que assim seja. e vejo-as espezinhar outras e vejo-as a serem completamente alheias a tudo o que as rodeia. Vejo o desprezo nos seus olhos, vejo o nojo. Vejo a raiva e partilho-a com elas, mas por outras razões. Às vezes perco esperanças no mundo e na humanidade. E depois perco a esperança em mim e magoa-me a minha maneira de ser. Porque parece que o que faço fere os outros e sinto uma culpa imensa nas coisas que faço, nas palavras que digo, nos actos que ficam suspensos num vazio que impede a sua chegada. E pergunto-me se não serei eu o culpado e se mereço estar aqui.

Percebo-te tão bem quando falas nas diferenças que parecem não ser toleradas, que não parecem sequer ser consideradas. E aí orgulho-me de ti, porque vejo essas batalhas que travas, e porque sei o quanto te custa assumir o papel de guerreira. Podes sentir que isso não faz a diferença, podes admitir que te escondes, que desistes. Mas voltas a tentar de novo, e por poucas batalhas que ganhes, há sempre alguma coisa que fica.
Já eu sinto medo de lutar. Sinto muitas vezes que sou um fraco para mostrar aquilo que sou e aí sim, eu sou quem realmente se esconde. E sofro por isso, sofro em silencio por entre a massa amorfa e insensível. E a vida é demasiado curta, mas continuo a desperdiçá-la com estes medos, com esta inércia. E pergunto-me se alguma vez serei feliz.

Admiro que tenhas força para seguir em frente. Admiro os passos que dás em frente, admiro a cabeça erguida, mesmo que de lágrimas em fio. Agradeço a todos os que te puxaram desse vórtice negro que tudo engole, todos aqueles que te devolveram a esperança, e espero que, de alguma forma, tenha contribuído para isso de alguma maneira. Admiro as tuas palavras de coragem e a tua vontade de gigante.
Lembro-me que muitas dessas palavras ecoaram em mim e da admiração que senti (e que ainda sinto), porque às vezes não percebo como posso acordar mais um dia para cultivar um sonho que não passa disso.

Gostava de partilhar muitas coisas contigo. Sei que posso confiar em ti, e aprendi que és verdadeiro ombro, mesmo quando precisas de chorar. E gosto de estar contigo, fazes-me bem. Acalmas-me e és a bonança em tempos de tempestade. E por mais breves que sejam os teus raios de sol, são eles que me aquecem quando brilham, e por isso agradeço-te. E tenho tanto medo de te poder magoar com esta falsa mão de Midas, que em vez de transformar em ouro destrói. Porque tudo o que destruiu em mim, não quero que te contamine.

Bem, não quero escrever um texto mais longo que o teu próprio post. Desculpa se divaguei, se disse coisas de maneira muito crua ou coisas completamente sem sentido ou desconexas. Tu ainda consegues ser poeta, ainda fazes deste teu choro uma melodia na noite.

Espero que possas voltar a voar um dia, que seja um dia breve.
Espero que te devolvam os sonhos roubados e que te abram os céus.
Espero ver-te sorrir uma e outra e outra vez.
Espero rir-me contigo e fazer de conta de que nada mais existe.
Tenho esperança…

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